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poema do amor nascente

Eu poderia cantar-lhe sobre o amor pois é belo e terrível poderia contar-lhe o terror escuro dos homens das mães dos enamorados porém assim como a noite do breu faz-se a luz Eu poderia contar-lhe das faltas dos planos dos enganos gravíssimos dos enamorados em vão das falhas do amor do breu naqueles corações incontáveis incontroláveis onde sempre existirá mais luz que escuridão E u poderia calar-te então com: Júlio Carvalho

Cântico, Prece & Oração

O que dizer aos homens esculpidos em mármore negro, fogo, fumaça e servidão? O que contar aos filhos dos filhos de anjos esbeltos há muito esquecidos de suas divindades? O que oferecer a estás criaturas entre criaturas se não o canto noturno e terrível das coisas pequenas. O estender de braços ao acaso acenando em oração para que se frutifiquem O que entregar me é permitido quando o poço está seco e só pousa em meus lábios palavras de vaidade, vigília e permanência? O que sacrificar, quando do chão não brota flor?

Elegias Marítimas - Voz & Poesia

https://youtu.be/ xavDpKCHQdA

Manifesto à juventude

Para onde foram os anos de minha juventude? Transportaram-se à marte? Bomboleiam saturno? Mergulharam o oceano nebuloso todo-poderoso-amem? Escorreram pelas quinas? Espreitaram trincheiras fundas bradando: mata-ou-morre. dobraram-se sobre si mesmos como origamis kamikazes ensaiando o vôo e a queda? Quem dirá do tempo ás tuas longas histórias? Faixas brancas na areia estelar, retratos singulares de janelas suspensas no todo cosmos. A quem interessa ás pegadas do moço astronauta desbravador de distâncias, linhas e rugas? Do semblante vil e paradoxal do artista? Da altura inabalável das montanhas? Para onde escaparam os dias brandos? Refletem-se no grisalho das mães-paraíso-eterno? Engalfinham-se aos pares? guerreiam entre si o tempo e a memória? Por quais bandeiras? Brancas? Negras? E o amor, os afagos? Operam sobre quais tratados?

Carícias, transgressões & nudez

Observo fascinado teus movimentos sutis no entre abrir das pernas, exatas e angulares como o restante do teu corpo de sonho, sinuoso e intrépido feito curva de rio. O zíper e o volume marítimo do mastro suntuoso que me oferece, transgressor na semi-escuridão dos becos marginais dessa cidade distante e sonolenta, repousando insegura sob cobertores cristãos perpetuadores da moral. Convido aquele Adônis incandescente, super-nova aos mistrais do corpo anônimo contra a crueza das paredes, num labirinto obsceno de pêlos e no mergulhar de olhares cínicos e sedentos. Provamos o gosto e as súplicas um do outro, vertemos carícias urgentes enquanto ganíamos pelo futuro dos pares, famintos tateamos a culpa e o látex para descobrirmos suados e nús o verdadeiro sorriso na boca do homem.

amor "al dente"

com: Júlio Carvalho a perfeita alquimia do meu bem querer bem te faz pousar meu coração à mesa disposta entre pratos e copos risíveis do teu encanto maduro ler apaixonado nos teus olhos absorvido no teu respiro como um canto esperando que me devores extinguindo num gesto o ontem e as manchas rubras na toalha de mesa e os talheres dispensados entre os comes e bebes a fome um do outro antes antropofágicos do que trágicos consumidos pelo suor das mãos e o levantar das facas tornozelos cruzados tateando mapas traços sutis de sabores indizíveis o amor provém de indiscutíveis paladares

Erotismo & Espuma

No caminhar vacilante e apressado através do cais e das gentes banhadas pela febre ardente dos ventos atlânticos e da irreverência lúgubre do sorriso lunar à meia-noite. No entre por dos passos emaranhados de marinheiros tropicais iluminados pela densidade das coisas terrenas e bêbados naufragados num cruzar de espadas infinito. Transvirados e estranhos mediam-se pelo peso do prato rachado o lamento úmido por aquelas outras naus perdidas no entardecer das coisas. Clamavam solenes pelo dedilhar de remos eretos, protestando e uivando ansiosos pelo correr momentâneo das águas salgadas inundando as frestas ocas do mundo. Hastearam tuas bandeiras trêmulas à costas lisas e frágeis pelo pavor das ondas ancoradas pelo sal e pela prece à afrodite-do-mar, suplicando em reverência ímpar que o anjo branco e marinho não se desfaça na espuma.

Chamamento, louvor & Poesia

Estou aquecido entre ás paredes brancas e implacáveis do meu apartamento de segundas à domingos-infinitos oferecendo carícias e poses e chás e tantas outras doses à minha solidão. Estou envelhecido, branco e estático em meio aos móveis, passeio desatento ás distâncias entre o chuveiro e o gotejar incessante das pias de cozinha. Estou esquecido das praias e campos e montes, esperando de longe que se cumpra a profecia. O romper final das cinzas num lance de tintas e quimeras ruidosas sob minha janela. Ouço ao longe uma intensa melodia, um sopro de blues sobrepondo os carros velozes nas noites mornas de quinta à intermináveis avenidas, lisas, enfeitadas por luzes, álcool e (in)cansáveis magias. Ao longe, ouço/sinto o chamado, orvalho divino entre meus lábios, entrego-me solidário ás cores (e dores) soltas (loucas) e imensas do outro E assim, a poesia entrou em minha vida.

Elegias Marítimas ( voz & outras percepções)

https://youtu.be/xavDpKCHQdA

Cantos de morte.

Que segredos contam os lírios amontoados nas paredes? sobre qual delírio segredam ás flores em seus vasos-túmulos eternos sem verão? O que contam os mortos no espaço límbico dos vivos? Que histórias contam ás lágrimas e o luto a respeito do indeterminado fim? (se houver fim) A morte é a ausência última dos que ficam e ficam sós a escarnecer da luz de um outro dia ou a beatificar o morto e o chão que o sepulta.

Mapas, Trilhas & Fugas

Guardo aqueles pequenos suspiros, fragmentos breves e trêmulos do desejo incorpóreo, fluindo no rio no sentido contrário à vida, que planejamos sozinhos, traçando rotas, planos e mapas para dias comuns, perdidos na cama e no jazz alucinado das esquinas de qualquer bairro nobre de madrugada, aflitos, no cair das máscaras e alagados de uma fome voraz do outro-inteiro, que nos consome e some, suspenso na trama nos ardis do tempo e da vida.

Desertos familiares

Escassez total e iminente d'agua, sangue venoso da terra, fluídico nos poros abertos de homens deserto, vazando do corpo, do olho, o sal imaculado, presente de Deus. E o sol? Esse que a visto por sobre frestas fundas nas agruras do tempo? Que ele não se ponha em minha vida.

Ponto-cruz

No esbarrar de olhos, cruzados no fio, ponto-cruz da vida cotidiana, tecendo contos breves, histórias anônimas, urbanas, perdidas, no entre por de carros às onze do lume notívago de uma noite qualquer.

Manifesto ao Desejo

Eu quis acreditar nas palavras que você não disse, eu quis acreditar no amor prematuro não vivido, eu quis acreditar na juventude efêmera e no tempo reversível, eu quis acreditar no poema nunca escrito e no futuro dos versos, eu quis acreditar na calmaria após a tempestade, eu quis acreditar na verdade, se houver alguma verdade para se crer, eu quis acreditar na imensidão do universo e na conjuntura total dos astros solares, eu quis acreditar na presença e em dias amenos, eu quis acreditar na beleza escondida dos pequenos gestos e no espelho infinito dos olhos, eu quis acreditar todos os dias em você.

Descontínuo vendaval

Então será possível que o tornado passe sobre tetos tanto tempo indulgentes, enquanto assobia sua canção fantasmagórica entre cabelos há muito envelhecidos de mal tempo e desamor? Lança sobre mim o vendaval das coisas efêmeras e líquidas, como a chuva que inunda a casa, o olho, o ombro tantas vezes atingido, tantas vezes retesado, qual o arco profano irmão gêmeo do trovão. Aqui estou, ó vórtice divino. E tenho medo e resisto.

Confissões Passageiras

Observo curioso os passageiros às janelas, abertas (ou não) contemplando a rua comprida e enfeitada pelo neon gasto dos bares de quinta à segundas inteiras, esperando, quem sabe, o convite ao abraço de braços mais corajosos e firmes, que os arranque intactos de suas amenidades contemplativas. Tirem-lhes às vidraças baças deste transporte medíocre e circundante, pois já não move ou comove o corpo do humano posto à teu lado.

Vias, estradas & emoções

Há nesta miríade cósmica composta quase e exclusiva de homens longos e brutos, presos à rochas íngremes como arranha-céus altivos e negros contra o olho solar. Ainda hoje, nesta era, há a senda secreta, o trilho e o trem vacilante em solitude máxima, dirigindo-se com primor desvairado através das curvas e trilhas e estradas e abismos inteiros. Nômade! Cigano do tempo em primazia, caminhante equilibrista do fio do tear do fim da vida.

Fragmentos Cotidianos

O amor, como qualquer outra droga ou te da barato ou te frustra

Diálogos Urbanos

- moço, tudo bem? - tudo - pode me tirar uma dúvida? - claro! - onde me encontro?

Obscena epifânia

Maldito! O anjo nú e moreno como tantos outros tantos que me atravessou do peito às tripas, que consumiu o berro e a garganta em chamas lânguidas, fogo-fátuo dos mágicos, picaretas e contrabandistas escuros munidos de flores outras nauseantes do cheiro doce dos condenados, esquálidos nas esquinas desertas, ocas e áridas das tuas asas imensas, serafim negro, breu noturno, espada na noite. Obscena epifânia - Vini Miranda.

Paixão;

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Anonimato & Paixão

Matando-te todos os dias em excessos, camas e corpos outros, alheios (desviantes) e anônimos de nossa fina trágica loucura. Tocam-me o cenho, torso, o ombro nu desvelando-se trêmulo aos afagos clandestinos do enamoramento, desfazendo o nó e o fel do nosso tempo. Olham-me nos olhos esses outros, talvez com certa previdência do sabor amargo que é tua lembrança. ou Talvez entendam, aqui é o poema. E o próprio corpo do poeta é poesia.

Força d'agua

Toca meu corpo e eu viro água, escorro livre até seus lábios, mesmo que me negues a força d'agua abre passagem.

Manifesto ao amor

Pela vida secreta dos garotos de olhos fixos virados inconsoláveis para baixo, pelo temor púbere dos jovens viciados em exposição fácil e gratuita das redes sociais, pelas pessoas bondosas e cívicas que civicamente atacam com ódio, pelos moribundos nunca mortos, e por isso escondidos atrás das pontes, nas esquinas, bêbados e trêmulos e loucos da caridade pessoal, pelos que morrem de amor, e morrem e choram e sobrevivem, e gastam no pente lágrimas ácidas de ácidos não batidos, por mulheres lindas e negras, e lindas todas as mulheres que choram e sofrem e são oprimidas, pelos homens que não sofrem, não choram e por isso são impedidos de sentir, embora sejam apegados às suas barbas, pelos poetas apaixonados, e por serem poetas apaixonados, dão mais do que recebem, e recebem menos do que sentem, pelo amor que pareça pouco, porque sempre é pouco o amor que percebemos, mas que seja maior que os prédios metropolitanos cheios de falsa segurança e seguranças com olhos atentos a nada,

Entre sombras

Onde esteve quando os tigres vieram? Onde andava enquanto a noite caia? Nas horas longínquas perdidas na casa e na espera. No fogo intermitente, incessante de promessas e ausências. Em flores nunca vistas, inseguras de sua fragrância. Onde caminha e por quais campos diminuta sombra?

Elegias marítimas

Arrasta-me ao profundo das águas, repousa meu corpo marítimo no leito áspero de tantos outros barcos náufragados em paixão. Recolhe, nas conhas e presentes ás vozes potentes de ventos soltos, ainda pouco frementes ao canto. Trôpego de amor ou maresia, envolve-me suplicante em tuas longas ondas. Desmancha meu lar terrestre, estica o desejo salgado de peixes multicoloridos sobre meus olhos, trança meu cabelo com algas-marinhas enquanto me conduz, sem pressa, tranquilo, aos teus braços de mar.

Canto de Permanência

Aqui, colado a tua doçura, não atrevo a encarar-te, sequer vasculhar teus olhos profundos, estalados de tantas noites insones. Por medo, admito, de que no instante exato do encontro ocular, tu como sopro etéreo desapareça.

Homem-pássaro

Na luz, todos os homens comungam. Enquanto é quente, todos os homens cantam gentilmente. No estopim do verão, todos os homens são aves. Na brisa, toda ave é feliz. ao longe. Solitária, à ave (noturna) do por vir canta baixinho: "Deus, o que será das aves quando o inverno vier?"

Sol pro âmago

Não tema (trema) pelo frio amargo instalado no âmago cavernoso das pessoas. É quase certo. Haverá Sol.

Vapor Lunar

Evaporei na névoa rala entre teus olhos castanhos, Não mais existi, fruto do teu fogo às queimaduras, tantas, dispostas em meu dorso, flor-sangrenta noite sem luar.

Declaração dos confidenciados

Desaparecido, na bruma longa dos dias ocos, vertiginosos, pálidos, esmaecidos do teu lábio inflamado em lábias mortais e infames do teu pouco amor Embora ameaces voar, alçar nas asas póstumas dos anjos grossos, enrijecidos, postos ao canto, tristes de sua falta de mobilidade Espero que fique nos minutos longos, nas horas doces, exaustivas, que dure o nosso tempo, mais que o escorrer perdido no vão preto das coisas ocultas. Ainda que parta às alturas seguro do vôo longitudinal que lhe cabe, crendo no fecho, a espera esperança da luz que modifique brevemente em alento quanto dure nossa frágil e móbil felicidade.

Trecho de: (i)material

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Trecho de: Entre Lençóis

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(i) material

Beijo de poeta é beijo de vento, próprio ciclone dançando solto ao corpo e subindo astronauta às alturas. Trovão! eis o corpo imaterial do poeta, estrela-guia o olho-vivo intergaláctico da possibilidade sentimental. Tudo do poeta é indecifrável, menos o que sente, e sente inflamado e duvidoso a quase tudo, principalmente, ao que se supõe amor.

Entre lençóis

Ele nem via ou percebia, nulo, seguro de sua posição entre os lençóis, tempestivo feito onda brava, combatia aos poucos, milímetro a milímetro minha presença. Ele não sabia, que ao passo que caminha os dias, passavam também, nossas línguas úmidas de um desejo prematuro e evidente. Que nestas trilhas todas do corpo onde passearam tuas mãos até o sem fim do secreto em mim, eu me entreguei. Todos os dias aos teus beijos, as semanas incontáveis em clamor, a vida plena do romantismo ultrapassado. Eu me entreguei, rendido aos afetos que inventei para você E você nem via.

Elegia à Carolina

Carolina, por que te escondes miuda, se ainda é quente e fácil teu caminhar? Por que, ainda hoje, não tira com pressa o véu translúcido que te esconde silenciosa do mundo? Expõe-te de novo, valente, lutadora no jogo e nas disputas tantas de afeto. Mostra o peito. O olho. O entorno todo colorido repleto de amor. Vai, gentilmente e devora o mundo.

Transcendente Universal

Olha-me fundo, adentro, reconhece o terreno próspero e fértil (múltiplo) de planos, linhas e rotas. Desbrava, na altura das curvas minúsculas dos poros, a ânsia mordaz por bravuras. Anseia, aos cometas e estrelas anãs, macrocosmos interligados do átomo mágico universal. Passeia a via-láctea, finda a tarde, liberta do corpo às nossas asas.

Espírito-liberdade

Ama-me além do claustro e das algemas Queira-me livre, espirito da natureza. Deseje-me solto voltando aos teus braços Liberte-me até que eu possa voar Vini Miranda/Julio Carvalho

Noite adentro

É madrugada e me reparo atento aos teus olhos insones, assustados, suportando sobre si o peso de outros olhos ainda mais generosos. Feito fonte, verte tua água qual o néctar soberano, seiva, leite ou saliva dos embriagados, poucos, quase tolos, pregados à s janelas. Diluídos e náufragos dos temporais transversais, ocasionais do ópio e do álcool. É madrugada, noite adentro e você também.

Retalhos

Quebra a concha humana, faz retalhos, dos papéis coloridos, soltos, (festins) da lembrança Desperta a pérola nova, linda, luminosa, secreta dos outros postos nas janelas Entrega o doce, da boca peregrina de campos mais dourados vastos O coração do homem

Trânsito

quero parar de lutar contra o tempo e insistir no agora o agora é passageiro impaciente comumente localizado entre o pulo e os começos entre o pulo e os tropeços recomeços com: Julio Carvalho

Doze

ande atento ao tempo e onde adentro o tempo? qual luz? tem caminho? deixa rastro o tempo? nos ponteiros nos momentos que aos poucos vão se desfazendo (até a gota risonha desprendida é tempo) com: Julio Carvalho

Exílio

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Até quando esperará  o deserto áspero e o exílio da vontade? Ilustração: Fabiana Reis

Fragmentos amorosos

Olha lá, o sol vem já, aquecer teu corpo amor Veja bem o jardim crescer florido novo então Leve beijo agarrado no corpo todo interior E que essa poesia, possa te encontrar, amor.

Fragmentos Gelados

Antes que eu me esqueça ou o frio me arrebate Sou de peito largo, Inchado, o fogo que tu ainda Não sente.

Elegia do Eu

Caro leitor atrás das vidraças, não existo, não possuo alma, corpo, membro, olhos, nada. Há apenas palavras meio-amargas organizadas em minha não-existência. Escrevo na esperança de disfarçar o descaso e o cheiro ácido dos corpos amontoados sobre minha cama. No desejo de ser liberto do tempo, inimigo da flor murcha e doente dos velhos. (já não somos jovens) Escrevo estas palavras fingidas (ou não) de afeto para esconder-me pequeno no negrume oco do peito inerte. Caro leitor, escrevo na ilusão de pertencer aos teus olhos. Na ilusão de ser supostamente amado e existir, vivo, personagem do teu sonho.

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Manifesto ao moço

Prende, segura estas ondas, soltas, tantas quais cabelos, loucos, morenos, grandes de afeto Toca, sente no corpo presente a altura do nó e do fogo, das coisas pequenas, breves, escondidas, todas, feito gota atrás de olhos verdes, pequenos, vestidos de sol. Engole, beija, morde, o caroço bruto de dores e flores, outras, ansiosas e trêmulas por ti. Aceita o encanto, canto, da boca sedenta do moço, louco, todo, perdido de amor.

Canção de exílio

Ainda ontem contavamos suas mentiras, vestiamos suas ideias, morriamos nos dias todos iguais em frente ao ócio Ainda ontem teciamos planos mais amenos e sonhavamos um sonho mais vivo Ainda ontem supomos o mundo mais justo e os corpos mais quentes. E o carcereiro oculto se revela, É golpe Do amanhã, que não seja doce nem apático, pois não morreremos no vão nem na luta Resistimos. Resistimos, o negro, o gay, a mulher, o bom homem, o humano e para sempre nossa dama liberdade.

Fera

Afundemos a fera, aquela outra que desfila tua pele limpa e ornada da pérola alva da decência conveniente, sonha teu sonho umedece teu olho entrelaça o corpo ao corpo do novo A fera toda ela nossa de dentro

Cântico Noturno

Carnívoro espírito do desejo, clamo-te hoje e além, vem, feroz e disposto, a dispor do rastro, a saliva satânica do encontro. Anuncia o jogo diabólico dos corpos, o embaraço, ritmado da dança profana do gozo e da seiva. Suor esplêndido de vigor e urgências, braços, coxas, tetas, tuas por reverência Rogo pequeno devorador que não me deixes hoje e nunca.

Homens raros

Aos homens poucos e parcos do nosso tempo. Na altura das asas, Ícaros-ao-sol Trêmulos, Supostos sonhadores, Ingênuos da fome que em mim se adivinha. Aos homens, tantos e todos que amei, repartidos do pão e do corpo, do gozo cru por sobre nenhum outro reverso de mim Aos homens dos sonhos e da miragem, persona mítica do encanto, doação ilimitada do afeto gratuito e passageiro Aos belos homens em seus fortes e torres meninos por nascer. Aos nossos homens Homens raros.

Sonho Pálido

O sonho, embora doce, quando demasiado fútil e pálido, mendigo do desejo do Outro. Mais nos entorta, cenho centro e plexo, Inóspito e áspero os venenos todos do tédio nos corrompe aos poucos, fundo, dentro do âmago.

Florescer

Florescíamos tanto, todos os Outros em nós.

Efêmero

Nossas paixões já não serão passageiras, estrangeiras de um outro tempo. Nem o toque nem o gosto. O olho nú por sobre o outro Nada mais Será Efêmero.

Balada do encontro

De certo Existe um "Eu" próprio nesse nosso desarranjo. Um limbo todo pronto de ausências e encontros. Entre nossas línguas e idiomas O lugar-comum dos acordos. O fato, ó flor é que há dentre nós um espaço novo. Pertencente aos embaraços nossos, costumeiros ou não. E de pronto quase por descuido pouso secretamente onde me negas Evidenciando o equívoco de saber de ti Apenas o que me oferta. Então me negas e talvez ainda hoje te encontre mais.

Messalina

Rasga-me homem, carne e sexo. Passeia as trilhas descampadas do desejo ardente e sujo. Espreita com teus lábios sábios, o templo às minhas coxas. Devora-me no canto no teto entre as frestas, sob os muros e eras. Gorjeias teu som de fera e se apressa a arrancar trêmulo o fôlego, sopro e chama. Incendeia-te Bruto singelo pequena morte consome de nós os restos tortos e doces de outro tempo mais ameno. Mastiga-me Posto, o seio que o alimenta. Messalina tua a prover-te leite gozo e permanência. Visto que só se adivinha tua a cavalgada. Os incêndios todos Intrépidos de lava Por ora, Benfazejo homem do teu corpo escrava.

Canto aos Mortos.

teciam, os mortos. Contos e mortalhas. segredando à noite e ao tempo ao homem-vivo de presença. Estendendo ao acaso apertos e passos. cingindo no homem o semblante. Amante de pássaros, posto que voa e flutua. Perene ainda ao teu canto Canto nosso. Canto de pátria se é como chamas tua terra prata límpida e saudade. Estrondoso o grito agúdo perdido do verso Desvelando no vento peito sofrego chamamento ao amigo.

Viagem ao mundo

Ainda Por hoje Estende-te longos os braços. E abraços cálidos De súbita radiância. luz nova. Apressa-te e parte. Cruza as pontes. Detêm os monstros. Devora o osso. Consome o corpo, o veneno. Seiva do outro. E volta. Peito é casa. Morada. fortaleza. monumento Íntimo e branco perolado. Branco como aqueles que vertes aos baldes de óleo e lágrima. Apequena e diminuí. Demora-te, nas curvas e cabelos pelos Soltos Fragmentos de estrada. Na boca Escancarada Paisagem Iluminada de nós. E volta.

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Vem. Transpõe os muros.

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Deita-te curiosa Alice Move-te para dentro. Para o bem mais.

LINEKER - Leite (vers. oficial)

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Diálogos soltos

- Tudo bem? - Não, tô com um dor de viver do caralho. - Dor? - É, aquele vazio branco e sem fim - Entendo - Pois é

Azul

De um estranhíssimo azul do nosso tempo e um corpo quente.

Imperativo Oceânico

Humilde chuva invejo-te, cantam os postes úmidos de sua aparente liberdade. Chorando, meio tortos por sobre as casas, estas, ainda mais tortas em amorfas bandeiras. Suave sereno obsceno (e ameno) onde contam os mortos e os vivos e os quase vivos e quase todos tão sós de plenitude Imensos, os raios que rasgam ferozes atrozes impávidos tremendo em teus lábios E tu torrente universal tornaste seiva e sumo e lago. Legitimo, imperativo. Oceânico.

Ensaio sobre a chuva

Há no outro, no grande Outro, algo de indesculpável. indivisível de nós mesmos. Como quando se cruza  uma tempestade, e subitamente todos os ossos se sacodem. Osso é íntimo, intrínseco (e só) A pele formiga se eriça onde medem-se os traços rabiscando rotas nos pelos planos, fugas. é função dos olhos mareados que veem antes de tudo o dever de revelar-se Fragilizar-se para existir O sol sai (é sua natureza) mas és tu, todo feito de relâmpago e ventania sopro transatlântico geométrico geográfico és tu o Outro a desvelar-se só ao mundo (ao mundo todo e ao vento)