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Mostrando postagens de junho, 2018

o tecido que tecemos

compomos sentido igual tecemos tecido? será que nos vestimos de sentido quando saímos bêbados e trôpegos pela cidade, imersos nas águas trêmulas do algoz? compomos sentido igual tecemos longos vestidos? daqueles de noite, dourados, mas que mascaram a sua nudez, tão sua. tão característica de você. imperfeita. compomos sentido igual tecemos contos pornográficos? cheios de tesão e poses e fotografias de como éramos ontem. jovens de tudo. inacabados. compomos sentido enquanto falamos da morte? e do amor? e das coisas obscuras entre as manhãs e as tardes? a morte, uma ave amiga? compomos sentido. vestido. amamos. fodemos. fizemos poses obscenas. fugimos. imperfeitos ontem. hoje. morremos?

contos que contamos ao sol.

pousa a tarde, ao lado do teu prédio. crianças correm da horta ao portão. um senhor me cumprimenta, aceno distraído, vidrado nos mistérios de o porquê você não desce. aquela tua vizinha, a do cachorrinho, disse que você saiu, apressado, de camisa amarrotada. olho insone. o sol é um círculo sob o mundo, pega fogo. acendo um fumo ali na rua 5. suave, enquanto a cidade avança sobre os carros. meu peito dói. caminho às cegas por aquele bairro novo, inclusive, nada de novo na floresta. os animais ainda se devoram. já são quase sete. nada de você, apenas avenidas. cães. ratos. tantas outras coisas menos líricas que você. e álcool, sempre tem o álcool né. eu mesmo nem sei das coisas, coisa alguma. apenas flutuo entre as pessoas. prédios. casas. visto minha cara. vadio, incinero pontas. pontes. cruz. desatando um nó. um rolo.

verão nos trópicos

não é impossível de imaginar que você devia mesmo ter caminhado plena, vestida de luz sobre a areia branca que humildemente se enroscava nas suas pernas. coladas no seu corpo. não é demais pensar nas inúmeras vezes que acreditamos estarmos certos sobre como o amor se comporta de forma ridícula ou como cada vez que contávamos segredos e estávamos nus, bem ali, enquanto a cidade dormia. tudo bem, as vezes, quase o tempo todo sentir medo. eu sinto. ela também. acredito que você esteja agora em algum lugar contando coisas nossas, de como éramos evoluidos. e tudo bem, tudo vai ficar bem enquanto ainda tiver sol. não é impossível de imaginar, é?

estrutura romântica sobre a selva

uma única luz cega brilha sobre o apartamento lá fora. água e folha, insetos sobrevoam nossa cama, desfazem-se em acrobacias perigosíssima recitando Tavares, o zunido das asas traduz o tédio em acaso, abre um pequeno vão fendido na casca da árvore em chamas, anuncia em língua de prata e encanto seu doce veneno, mais uma vez sua ausência (e sua fuga) mais uma vez venta em nossos olhos, morrem-se então os insetos kamikazes na busca incessante e na certeza de um instante, um único sopro de amor ou luz que renovasse a vida.