canto para minha morte
sua ausência desenha uma sombra sobre a cama, onde deito esperando minha morte e eu sei que ela vem, ela me chega todas as noites perto das três e parte sempre antes das luzes se acenderem, há margaridas murchas em seus cabelos, pinta no meu rosto um rastro de sal, come com seus olhos felinos e insones todos os afagos, esvazia de sentido as ruas desertas, as esquinas tão duramente cinzas choram por você então me veste de retalhos, fiapos de névoa, substâncias alquímicas que te amaldiçoam e te procuram, mas eu sei que você vem, eu sempre sei nos ossos quando você vem, abro as janelas para ver seus lábios repartindo um risco de riso que talvez também te ilumine. você, uma sombra solitária sobre a cama.