lança-me do barco, se quiser, pedra na água, jóia submersa, sereia ensandecida em paetê e madrepérola, dignissima bruxa do mar interceptadora dos desavisados, santa-santa dos mistérios aquáticos, guardiã dos portos, raio único do veio de prata. segura minha mão, escamas de peixe. vai ficando, escora tua mágoa no canto da sala, prova no ar o odor familiar da tua pátria, tempero de lânguidos olhos, cova rasa na terra, ventania que se arma no norte, anúncio e trovoada, castigo na noite, naufrágio, afogamento e vastidão, eu mesmo, já estou perdido.
o deslizar do meu corpo gelado em oposição a bala solitária que me atravessa o peito, o degelo dos meus olhos e as cinzas, um rio solitário que se entrega aos penhascos, abismos e crateras idealizadas pelo pavor e pela recusa e por todas as perdas cotidianas e infinitas
ama a imagem, a sensação, a rima descontinuada, o atravessamento, mas desconhece o escuro da noite, e o degelo artico dos meus olhos desmaiados, a fome crescente e a ansia pelas águas terriveis do fim do mundo, desconhece as cicatrizes e as falhas sob nosso teto, a fragilidade intrínseca da nossa história, o vazio incomodo que ocupa nossa mesa agora, ama o desejo o amanhã e a estrada, a vertigem inocente dos primeiros dias, ama e desconhece a sombra no meu peito, o punhal na noite azul, os ganidos de prazer e dor e as muitas mortes do amor.
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