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Mostrando postagens de agosto, 2018

paralisante desejo

uma pequena adaga se move no escuro do quarto, formigas passeiam livremente pelo seu corpo, a cara de horror estampa a vitrine que veste seus olhos, sua boca muda, gesticula coisas obscenas e breves, um óleo pegajoso que te gruda os braços, arranha teu rosto. cada hora do dia é um crime, existir preso e existir cansado, cercado de muros, espelhos, caminhos, confissões. uma pequena vela tremulando sozinha no vasto rio do esquecimento

flutuações sobre o espaço

um vórtice mágico de luz,  apareceu no buraco aberto, entre o teto e o sanitário, cintilações azuis, roxas, giroscópicas me atingiram. deitado, absorto em como as estrelas pareciam querer dançar através da ferida aberta no teto do banheiro, melodiosamente marcada por um único fio fino e prateado que se desenrolava preguiçoso sobre o oceano branco do porcelanato. eu me deixava ir através das luzes, através da fresta, através da gota, uma fome me nascia. e crescia. e crescia. e se esticava pelo meus ombros, pelo meu peito, meu estômago. minha pele, fundida à voracidade da água, molhava meus cabelos, esparramados à altura dos querubins espaciais e dos tremores. um corpo iluminado pela sombra de Saturno. um buraco no mundo que estufa e brilha.

viagens líquidas sobre iluminação natural

enquanto esboçava sorrisos elaborados para a câmera, levemente sensuais, imitando um modelo francês qualquer, reparei por um átomo de tempo, em como a luz se infiltrava pela minha pele, distraído do palco dos outros, meu próprio, indaguei sobre a fina película que envolve nossos olhos, sobre como vamos perdendo partes e ganhando partes e perdendo partes infinitamente na roda das coisas, que desde que o mundo é mundo que nada faz sentido. aplico um filtro rebuscado sobre a forma que eu vejo o mundo e o corpo que se move, exposto, animado pelas fantasias anônimas do público e por ele mesmo, dançando continuamente sobre túmulos e pátios e creches e escolas, uma sansara entre viver e existir. (re)existir, quando nada mais perece de fato.