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Mostrando postagens de julho, 2016

Entre sombras

Onde esteve quando os tigres vieram? Onde andava enquanto a noite caia? Nas horas longínquas perdidas na casa e na espera. No fogo intermitente, incessante de promessas e ausências. Em flores nunca vistas, inseguras de sua fragrância. Onde caminha e por quais campos diminuta sombra?

Elegias marítimas

Arrasta-me ao profundo das águas, repousa meu corpo marítimo no leito áspero de tantos outros barcos náufragados em paixão. Recolhe, nas conhas e presentes ás vozes potentes de ventos soltos, ainda pouco frementes ao canto. Trôpego de amor ou maresia, envolve-me suplicante em tuas longas ondas. Desmancha meu lar terrestre, estica o desejo salgado de peixes multicoloridos sobre meus olhos, trança meu cabelo com algas-marinhas enquanto me conduz, sem pressa, tranquilo, aos teus braços de mar.

Canto de Permanência

Aqui, colado a tua doçura, não atrevo a encarar-te, sequer vasculhar teus olhos profundos, estalados de tantas noites insones. Por medo, admito, de que no instante exato do encontro ocular, tu como sopro etéreo desapareça.

Homem-pássaro

Na luz, todos os homens comungam. Enquanto é quente, todos os homens cantam gentilmente. No estopim do verão, todos os homens são aves. Na brisa, toda ave é feliz. ao longe. Solitária, à ave (noturna) do por vir canta baixinho: "Deus, o que será das aves quando o inverno vier?"

Sol pro âmago

Não tema (trema) pelo frio amargo instalado no âmago cavernoso das pessoas. É quase certo. Haverá Sol.

Vapor Lunar

Evaporei na névoa rala entre teus olhos castanhos, Não mais existi, fruto do teu fogo às queimaduras, tantas, dispostas em meu dorso, flor-sangrenta noite sem luar.

Declaração dos confidenciados

Desaparecido, na bruma longa dos dias ocos, vertiginosos, pálidos, esmaecidos do teu lábio inflamado em lábias mortais e infames do teu pouco amor Embora ameaces voar, alçar nas asas póstumas dos anjos grossos, enrijecidos, postos ao canto, tristes de sua falta de mobilidade Espero que fique nos minutos longos, nas horas doces, exaustivas, que dure o nosso tempo, mais que o escorrer perdido no vão preto das coisas ocultas. Ainda que parta às alturas seguro do vôo longitudinal que lhe cabe, crendo no fecho, a espera esperança da luz que modifique brevemente em alento quanto dure nossa frágil e móbil felicidade.

Trecho de: (i)material

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Trecho de: Entre Lençóis

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(i) material

Beijo de poeta é beijo de vento, próprio ciclone dançando solto ao corpo e subindo astronauta às alturas. Trovão! eis o corpo imaterial do poeta, estrela-guia o olho-vivo intergaláctico da possibilidade sentimental. Tudo do poeta é indecifrável, menos o que sente, e sente inflamado e duvidoso a quase tudo, principalmente, ao que se supõe amor.

Entre lençóis

Ele nem via ou percebia, nulo, seguro de sua posição entre os lençóis, tempestivo feito onda brava, combatia aos poucos, milímetro a milímetro minha presença. Ele não sabia, que ao passo que caminha os dias, passavam também, nossas línguas úmidas de um desejo prematuro e evidente. Que nestas trilhas todas do corpo onde passearam tuas mãos até o sem fim do secreto em mim, eu me entreguei. Todos os dias aos teus beijos, as semanas incontáveis em clamor, a vida plena do romantismo ultrapassado. Eu me entreguei, rendido aos afetos que inventei para você E você nem via.