um recorte sobre esperança

eu que desenhei a paisagem
para os teus olhos ciganos
e que de alguma forma
meio sem querer
percebi teus pequenos deslizes
não te julgo,
nem te acolho mais
que o suficiente
para encostar na tua boca
palavras grandiosas
sobre o futuro do mundo
e de como você não está só,
mas está e você sabe.
todos estamos.

você e eu que somos muitos
outros em nós
que tentamos sobreviver
inteiros ao grasnar
dos corvos ao meio-dia,
que sentimos aquela
onda quente como um bafo
azedo e amanhecido
subindo
pelo asfalto e os carros
e as próprias aves negras
em pleno vôo
choram e lamentam
por nós, eu suspeito.
e tremo.

você mais do que eu
inventou um jeito mais bonito
de não se sentir só
um esquema quase infantil
de sentir-se grande
e conectado com as coisas
de fora e as angustias do mundo.
uma forma de também olhar
para dentro. talvez

acho que até você tem
dias chuvosos
e raios furiosos na cabeça,
pois te vi tão triste hoje
pelos corredores
e eu quis mesmo acreditar
que vai ficar tudo bem,
tudo certo. e que no fim
nos salvaremos todos.

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