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todas as mortes do amor

ama a imagem, a sensação, a rima descontinuada, o atravessamento, mas desconhece o escuro da noite, e o degelo artico dos meus olhos desmaiados, a fome crescente e a ansia pelas águas terriveis do fim do mundo, desconhece as cicatrizes e as falhas sob nosso teto, a fragilidade intrínseca  da nossa história, o vazio incomodo que ocupa nossa mesa agora, ama o desejo o amanhã e a estrada, a vertigem inocente dos primeiros dias, ama e desconhece a sombra no meu peito, o punhal na noite azul, os ganidos de prazer e dor e as muitas mortes do amor.

arquipélago errante

eu sou um país desconhecido, quente e úmido, talvez eu seja uma ilha afastada no arquipélago, um minúsculo amontoado de terra sem pátria, um pequeno segredo de estado. um lugar para fincar sua bandeira, rezar ao seu deus marítimo, oferecer sua vontade livremente ao mar, quem sabe um porto para tuas idas, quem sabe uma casa um ponto no mapa para voltar. voce,navegante experiente opera unicamente sob a lei das estrelas e dos tratados, faz dessa ilha lar, enquanto la fora cai o trovão a ponte e a tempestade.

a roda do mundo

três giros da roda vezes três e o silêncio de prata que coroa meus cabelos, as máculas na fonte primitiva da primavera radiante, rajando a mocidade de cinismo, perdas e cotidiano a permanente entrega de nós mesmos e o esvaziar dos olhos salgados temperados pela partida e pela entrega até que reste sob a terra apenas minha memória e minha dor e até isso não será  suficiente

eco de dentro

o eco do eco do eco da reprodução de uma minúscula gota, do inteiro de dentro que falta,  fala das sombras mornas, do complexo conjunto de sonhos soltos, úmidos, fluindo vivos pela corrente da memória, completos de fugas e abismos inteiros no meio do rio branco das tempestades internas ao fogareiro incerto  da coragem de desviar da bala de prata, da palavra, ou do gesto de traduzir as vontades do tempo, de tatuar  na terra o corpo secreto e brilhante  da noite.

Alinhavado

não superei, mas costurei uma bandeira sob o peito e anunciei minhas feridas em linhas cálidas, observei o tracejado sutil da curva de todas as minhas dores, remendando pequenas figuras abstratas, moldando o fio-vivo do tecido da memória, incendiando em linhas tortas o vermelho vazio das tardes da minha vida até o findar do nó, o apertar do laço, até o romper da ultima linha